sexta-feira, 8 de outubro de 2010

”Petrobrás é caixa branca”




Os palanques das duas cerimônias que receberam ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – a entrega da plataforma P-57, da Petrobrás, em Angra dos Reis, e a inauguração do novo Centro de Pesquisas da estatal, no Rio – foram usados para discursos com tom de despedida.

Lula brincou, fez as costumeiras declarações, do tipo “nunca antes na história”, e embargou a voz ao enumerar as conquistas de seu governo.

Lula disse que, em seu governo, a Petrobrás ganhou papel estratégico e mais transparência. “Diziam que era o Brasil que pertencia à Petrobrás e não a Petrobrás ao Brasil. A ponto de ter presidente que falava: “a Petrobrás é uma caixa preta, ninguém sabe o que acontece lá dentro”. No nosso governo, é uma caixa branca e transparente. Nem tanto assim, mas é transparente”, brincou, no estaleiro em Angra.

No Cenpes, o presidente citou a crise do subprime americana, para afirmar que o Brasil foi o país que melhor superou a crise. “Fui achincalhado quando disse que aqui a crise seria uma marolinha, mas foi. Porque a gente tinha o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa, que salvaram o mercado quando todos estavam com medo”, comentou.

O presidente também lembrou do início do mandato, quando colocou na diretoria financeira da Petrobrás o acadêmico José Sergio Gabrielli, hoje presidente da empresa, apesar dos alertas que recebeu de que “o mercado não gostaria”.

“Não só gostaram, como aplaudiram. Nunca antes na história deste País alguém sonhou que a Petrobrás pudesse ter o maior centro de tecnologia do mundo, assim como a elite deste País não sonhou com muitas outras coisas porque estava subordinada ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e outros.”

Pela manhã, em Angra dos Reis, durante cerimônia de batismo da plataforma P-57, Lula disse que o País tem condições de chegar a 100% da fabricação de embarcações para a produção de petróleo.

Alexandre Rodrigues, Kelly Lima, Luciana Nunes Leal e Nicola Pamplona – O Estado de S.Paulo

Quem quer debilitar a Petrobras?


Em dois dias marcados por intensa boataria entre operadores do mercado financeiro e pelos efeitos de relatórios bancários desfavoráveis para o comportamento de suas ações, a Petrobrás perdeu, R$ 24,9 bilhões de valor em bolsa. Na comparação com o início da semana, a perda foi ainda maior: R$ 28,4 bilhões, o equivalente a uma empresa do porte da Vivo.

A queda foi de 7,5% em relação ao que a empresa valia na segunda-feira. Naquela ocasião, contabilizados os ganhos do fechamento da oferta suplementar da capitalização, a empresa bateu R$ 380,82 bilhões em bolsa. Ontem, pelos cálculos da consultoria Economática, a empresa encerrou o pregão da Bovespa com valor de mercado de R$ 352,43 bilhões.

Desconsiderando as fortes oscilações dos papéis da empresa pós-capitalização, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou de forma ufanista sobre os rumos da empresa na solenidade que marcou a ampliação do Centro de Pesquisas (Cenpes) da estatal. E previu que a companhia ocupará a primeira colocação no ranking mundial, entre seus pares internacionais.

“Eu tive o orgulho – eu, um metalúrgico que virou presidente da República – de ter participado na semana passada da maior capitalização da Humanidade. A maior do capitalismo, e que elevou o patrimônio da Petrobrás para US$ 220 bilhões. Não é real não! É em dólares! Virou a segunda empresa no mundo, só perdendo para Exxon… por enquanto. Mas o Estrella (Guilherme Estrella, diretor de Exploração e Produção) promete mais pré-sal por aí…”, disse Lula.

As ações preferenciais registraram ontem a menor cotação em 18 meses, arrastadas por uma onda de rumores que os analistas não sabem de onde partiu e que envolveu desde expectativas de denúncias de irregularidades no comando da empresa a supostos ganhos ilegais no processo de capitalização. Nada ocorreu de concreto, mas a intensidade dos efeitos dos boatos surpreendeu analistas que acompanham a movimentação dos papéis da empresa.

“A movimentação com as ações da Petrobrás foi muito forte, principalmente pela manhã. Só nas primeiras duas horas de funcionamento do pregão foram movimentados R$ 800 milhões. Depois, a situação se acalmou um pouco e o ritmo de venda diminuiu”, comentou o chefe da área de análise da Modal Asset Management, Eduardo Roche.

Bancos. Parte do “efeito manada” foi atribuído pelos próprios analistas aos relatórios recém-divulgados de seis bancos – cinco deles diretamente envolvidos no processo da oferta pública das ações – com avaliações menos otimistas sobre o comportamento esperado para os papéis. Dois rebaixaram suas recomendações de compra e outros quatro reduziram o preço-alvo.

“O mercado acionário é movido por inúmeras variáveis que são difíceis de quantificar”, disse o diretor financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, em entrevista concedida ontem para explicar a capitalização. Presente à entrevista, o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, afirmou que o ajuste de preços é natural, diante do grande volume de ações vendidas na capitalização. Gabrielli não quis comentar o impacto dos rumores sobre os papéis, alegando que não fala sobre boatos.

“Acredito que o mercado vai rapidamente se ajustar a isso e voltar a uma perspectiva de crescimento, não de curto prazo, porque somos uma empresa de longo prazo”, disse o executivo, em declarações pautadas pelo otimismo, citando a perspectiva de atingir reservas de 35 bilhões de barris em cinco anos – hoje, a empresa tem 14 bilhões de barris. “É um potencial de crescimento único no mundo.”

Ele adiantou que a Petrobrás precisará captar no mercado mais US$ 60 bilhões nos próximos cinco anos, para cumprir seu plano de investimentos, de US$ 224 bilhões. Os executivos, porém, negaram a possibilidade de uma nova capitalização, conforme sugerido por um dos relatórios do mercado financeiro distribuídos esta semana.

Irany Tereza, Kelly Lima, Nicola Pamplona e Mônica Ciarelli – O Estado de S.Paulo

Petrobras passa por inferno astral e perde valor na bolsa. Bancos rebaixam Petrobras com dados que já eram conhecidos há um mês.



A conclusão da maior oferta de ações da história poderia ter sido um alívio para a Petrobras, que enfim se veria livre da especulação que atingiu seus papéis meses antes do fim da operação. Mas os últimos pregões têm mostrado que a expectativa era infundada.

As ações da Petrobras caíram ontem para o menor preço desde março de 2009, o maior recuo entre as principais produtoras de petróleo do mundo. No mês, perderam 7,3%, em 30 dias, 13% e no ano, 30%. A estatal passou da quarta empresa mais valiosa no mundo, no início de setembro, para a 11ª colocação, com valor de mercado de US$ 203,05 bilhões.

São várias as razões para o inferno astral da companhia. O segundo turno nas eleições presidenciais trouxe certa instabilidade ao mercado, que já colocara nos preços a vitória da candidata Dilma Rousseff. Boatos relacionados ao processo eleitoral tiveram efeito negativo.

O que de fato existe até agora, que poderia justificar a queda das ações, é que novamente a companhia não conseguiu cumprir a meta de produção e que os primeiros relatórios divulgados por analistas de bancos coordenadores da oferta reduzem o preço-alvo de seus papéis. Itaú Corretora e Barclays Capital rebaixaram também a recomendação das ações, de compra para neutro.

As principais preocupações dos analistas que revisaram a recomendação para as ações envolvem a diluição dos acionistas, o preço do barril considerado na cessão onerosa, a eventual necessidade de nova oferta de ações em futuro próximo e a orientação política da empresa.

“Se não tivesse flutuação de curto prazo seria uma operação de outro mundo”, afirma Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras. “Alguns bancos saíram com relatórios mudando a classificação, mas a maioria manteve a recomendação”. Segundo ele, a Petrobras terá de captar US$ 60 bilhões para financiar investimentos nos próximos 5 anos.

De fato, os preços-alvo apontados pelos analistas, apesar de terem sido reduzidos, continuam a indicar um potencial de alta para os papéis. As ações preferenciais (sem direito a voto) da empresa fecharam ontem a R$ 25,30, enquanto as ordinárias (com direito a voto) encerraram o dia cotadas a R$ 28,31.

Silvia Fregoni, Fernando Torres, Ana Paula Ragazzi e Rafael Rosas | VALOR

Plataformas terão índice maior de nacionalização



RIO
A Petrobrás espera aumentar em dez pontos porcentuais, em média, o índice de conteúdo nacional na construção de suas plataformas nos próximos anos. A estimativa foi feita pelo gerente de engenharia da empresa, Pedro Barusco, com base no início de operação do estaleiro Inhaúma, no Rio, arrendado pela Petrobrás para fazer a conversão de cascos para plataformas.
O teor do conteúdo nacional médio de uma plataforma, como a P-57, que será inaugurada hoje em Angra dos Reis, está na média de 68%, segundo divulgação da Petrobrás. A unidade teve seu casco convertido em Cingapura. O cálculo, porém, exclui os módulos de compressão de gás natural e de geração de energia, que são feitos fora do Brasil.

“É prática na indústria mundial do petróleo excluir estes módulos do cálculo, porque são poucos os construtores que existem no mercado”, disse. A Petrobrás não confirma, mas especialistas do setor acreditam que o cálculo do conteúdo nacional poderia cair abaixo de 50% caso fossem considerados estes módulos.

Segundo Barusco, o antigo estaleiro Inhaúma, que estava desativado no porto do Rio, poderá começar a operar dentro de seis meses. A área foi arrendada pela Petrobrás por um período de 20 anos e deverá passar por reformas para se adequar às necessidades da estatal.

A companhia tem aprovado orçamento de R$ 40 milhões para as obras de infraestrutura que darão ao estaleiro capacidade de construção de até dois cascos simultaneamente.

No mercado, a estimativa é que a reforma do estaleiro deve chegar a US$ 150 milhões. Barusco acredita que seja possível a utilização do estaleiro na licitação para o equipamento que será instalado no campo de Siri, na Bacia de Campos, até o fim do ano. “Se não der tempo de fazer isso com Siri, o próximo FPSO (navio-plataforma) que formos licitar será no estaleiro”
Kelly Lima / RIO – O Estado de S.Paulo

Com otimismo em alta, indústrias retomam projetos

Expansão de investimentos atinge 26,5%, maior taxa em 14 anos. Empresas ampliam capacidade de produção



SÃO PAULO. Líder do mercado brasileiro de semicondutores de potência (usados na fabricação de equipamentos eletroeletrônicos), a Semikron vai reduzir o espaço ocupado hoje por sua área administrativa.

Crise, demissões em massa? Nada disso: para dar conta das encomendas, 40% acima do volume registrado em 2009, a empresa decidiu mudar o layout de sua fábrica para aumentar a área industrial. A solução encontrada foi cortar pela metade o espaço físico ocupado pelos funcionários de retaguarda.

— Vamos nos espremer um pouquinho, mas será por uma boa causa — afirmou o gerente financeiro da companhia, Paulo Lagazzi.

O desempenho da Semikron é uma amostra prática dos números divulgados ontem pelo IBGE, que mostram uma expansão de 26,5% nos investimentos (formação bruta de capital fixo) no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, a maior taxa da atual série histórica, iniciada em 1996.

No segundo trimestre, o volume de investimentos no país somou 17,9% do PIB, taxa superior à registrada no mesmo período do ano passado (15,8%), porém ainda abaixo dos níveis recordes de 2008, antes da crise financeira internacional, quando a taxa ficou em 18,4% no segundo trimestre.

No caso da Semikron, o plano de investimentos, engavetado no ano passado por causa dos efeitos da crise financeira internacional, foi retomado.

Os desembolsos este ano chegarão a R$ 1,5 milhão, em linha com o registrado em 2008, antes da crise. A empresa, que já trabalha utilizando 90% de sua capacidade instalada, decidiu abrir um quarto turno de produção de diodos de baixa tensão.

Votorantim Cimentos vai abrir 8 fábricas e investir mais R$ 5 bi A Lupo, tradicional fabricante da área têxtil, é outro exemplo do novo ciclo de investimentos. Apostando na recuperação do mercado interno (que responde por 94% do sua receita), a empresa decidiu dobrar seus desembolsos — dos R$ 18 milhões em 2009, para R$ 37 milhões este ano. Desse total, 70% estão sendo usados para a compra de máquinas, principalmente para a produção de roupas esportivas.

O objetivo da Lupo, que tem fábrica em Araraquara, no interior paulista, é expandir em 15% sua capacidade de produção em relação a 2009, quando confeccionou 90 milhões de peças.

— Vamos faturar R$ 570 milhões neste ano. Queremos chegar a R$ 1 bilhão até 2013, o que significaria um aumento de 120% em relação a 2009 — disse o diretor comercial da Lupo, Valquírio Cabral Jr.

Beneficiada pelo crescimento do setor imobiliário e pela perspectiva de novos projetos de infraestrutura no país, a Votorantim Cimentos anunciou em abril a ampliação do seu projeto de investimentos de 2007 a 2013. Além das 14 fábricas já em operação ou em construção, a empresa definiu a abertura de mais oito unidades, elevando para R$ 5 bilhões o valor total de gastos no período. Quando todas entrarem em operação, a partir de 2013, a capacidade de produção pulará das atuais 27 milhões de toneladas para 42 milhões de toneladas ao ano.

Segundo o presidente da Votorantim Cimentos, Walter Schalka, a estratégia é operar com uma “ociosidade estratégica” e se “antecipar à crescente demanda por materiais básicos no país”. A companhia tem hoje uma fatia de 40% do mercado nacional.

Aguinaldo Novo – O GLOBO